19 de junho de 2015

Dá-me a tua mão

Dá-me a tua mão, digo-te num sussurro, os meus lábios encostados ao teu ouvido esquerdo, uma carícia breve dos meus dedos passando-te como brisa de verão sob os cabelos, e escrevo-te os contornos delicados do corpo, enquanto devagar te desenho, letra a letra, um soneto na omoplata, a métrica e a rima certas, com o rigor matemático de uma dízima infinita que se estende muito para além do corpo e do espaço em volta, viagem sem fim e sem destino, só descoberta.

Os dedos entrelaçados, o coração batendo-te cadenciado e terno na ponta do indicador, o sol de há muito é um vulcão de fogo que se desfez na areia fina da praia, a caminho do sotavento, um banco pintado de vermelho virado a poente, os pés descalços, senta-te comigo, olha o mar sem ondas, a pouca espuma branca arrastando consigo um poema de Neruda que acaricia o fim da tarde e nos chega à alma como melodia viajando do outro lado do Atlântico.


À beira rio, devagar, a noite acendeu-se nos candeeiros de iluminação pública, projectando sombras de barcos nas águas tranquilas, seguindo ao encontro do sal que as irá temperar no encontro com o oceano. De mãos dadas caminhamos contra a corrente, seguindo para montante, as silhuetas espalhando-se num voo plano, como se não houvesse plural e até nós não chegasse nem a noite nem os contornos imponentes do convento. Só silhuetas e ternura!

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