14 de junho de 2015

Hoje não preciso de palavras

Hoje não preciso de palavras, já me sobram as ruas desertas de domingo e este sombrio sol de junho varrendo de estilhaços os adros das igrejas. Dói-me a forma lenta como a tua ausência se arrasta pelas horas, sem um sinal de regresso, uma esperança do perfume suave dos jacarandás nos jardins públicos. Podia haver ao menos um indício de que a tarde te trazia de volta, caminhando devagar à beira rio, desejando ser nascente para ser ponto de partida.

Mas preciso de um olhar manso e tranquilo que me não chegue muito tarde e me desça devagar pela coluna , vértebra a vértebra, até à região lombar, onde um enigmático quisto persiste em me habitar e em lembrar-me de que algo de meu lhe está entregue e lhe pertence, não vá eu entregar-me por inteiro ao fresco que a noite há-de trazer e à lembrança de que nem isso pode fazer-te regressar ao meu regaço.

Preciso que me dês a tua mão e que nela sintas a certeza com que te aperto toda num só abraço. Que o calor morno do teu corpo me suba pelas veias e me chegue ao coração, renovando a vida que lhe dá o oxigénio que me entra pelas narinas, num caudal apressado e tumultuoso, como se tudo pudesse num momento fazer-se tarde. Preciso que o cheiro sempre novo do teu corpo se estenda sob a intranquilidade dos meus sentidos e que delicadas gotas de orvalho, doces como mel de urze, se estenda pela ponta macia dos meus dedos.

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