Morro-me devagarinho
Morro-me devagarinho. A
imagem da renúncia a cada manhã, escorregando pelo espelho embaciado abaixo.
Sempre os mesmos passos, inseguros e frágeis, percorrendo os mesmos trajectos
irregulares do cimento mal afagado dos passeios, a cabeça caída, o olhar
fincado na ponta dos sapatos, cambados e velhos. E tristes.
Assim me vou aquietando, e
encolhendo, a um canto da vida. Com os dias silenciosos e lentos, como se
fossem anos, sempre de inverno. O sol carregando a mesma humidade da chuva e o
mesmo brilho ausente dos nevoeiros densos e persistentes. Sem nenhum Dom
Sebastião que se espere, a derrota de Alcácer Quibir até onde morre o
horizonte, o mar pelo meio, cortina para o desconhecido.
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