13 de dezembro de 2015

Mulheres de preto descendo pelas chaminés

Antigamente, nas remotas aldeias de província e nas noites que davam para domingo, as mulheres vestidas de preto como se fossem viúvas do tempo, desciam pela fuligem das chaminés quando o solstício do inverno batia às portas do calendário. E traziam consigo cavacas secas para alimentar as chamas tranquilas da fogueira e um ramo de azevinho carregado de bolinhas vermelhas, que encurtasse as longas viagens dos sonos frios do hemisfério norte.


Hoje não há fumos que subam pelas chaminés e se misturem com as nuvens brancas que enchem as manhãs frias e luminosas dos dias claros e secos de dezembro. Como se anunciassem a chegada de flores garridas colorindo as primaveras e de um novo sucessor de Pedro, ajoujado ao peso de quantos futuros lhe sobrecarregam a estreita largura dos ombros, a apoiar-se no báculo, como peregrino que percorresse os caminhos de Santiago. E que de lá voltasse convicto de que trazia consigo, como o sol para todos, as certezas do porvir que nos falta.

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