7 de fevereiro de 2016

Desenhar-te o nome como se fosse uma flor

Desenhar-te o nome lentamente, como se fosse uma flor que se abrisse à madrugada, letra a letra, traço a traço, a mão firme, o risco suave e doce como um fio de mel correndo-te dos lábios. Prolongar cada letra e acentuar-lhe cada pormenor, como se fosse um sussurro permanente que se me alongasse para além da voz e se reflectisse no brilho gaiato do olhar com que sorris aos raios de luz que parecem chegar dos restos perdidos do paraíso. Uma praia do oceano índico, o nome escrito assim mesmo, sem maiúsculas que dessem qualquer dimensão às ondas que se nos entregam sob os pés nus, marcando o perfil na areia molhada, um friso de palmeiras virado a oriente. O oriente da China e de Pessoa, onde nasce o sol, vermelha e branca, as cores da vida de Drummond de Andrade.

Aspirar-te o perfume, suave e fresco, que me enchesse os pulmões e me chegasse ao coração, como se fosse o oxigénio vital e rarefeito dos cumes dos Himalaias, e ali me ficasse para sempre, como se a vida fossem apenas rectas paralelas que se encontram para lá do infinito que não somos. Desfolhar-te pétala a pétala, como se todas fossem muitas, todos os sentidos na ponta dos meus dedos, que amor não me engana com a sua brandura. Eu sei Zeca, eu sei que é tua a frase e o sentimento com que a sinto a entrar-me nos ouvidos, a pele a arrepiar-se-me quando as cordas tensas de uma viola tingem de ternura a tarde de domingo. E é por isso que o digo!


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