22 de novembro de 2016

Poema debutante

para uns a poesia é métrica
e cada verso com dez sílabas
já que a extensão do alexandrino
não é brincadeira pra menina ou pro menino.
a rima
sempre a preceito
a de baixo com a de cima
e depois é como der mais jeito.

o verso livre já não obriga a essas regras loucas
trinta palavras e ainda são tão poucas
ou só uma já é de mais
degrau a degrau
    lá
       se
           cais
três suspiros e quatro ais.

depois é preciso um editor
que se encarregue do projecto
menos poeta e mais doutor,
capaz de avaliar com rigor
os custos contabilísticos do afecto.
uma sala da escola,
da junta ou da paróquia,
mais um coelho na cartola
uma tarde ou uma noite de sábado
e cem cadeiras,
com tampo, costas e pernas,
todas inteiras
para sentar a assistência.
porque sem cadeiras não há amigo
que vá assistir só pelo copo de vinho fino
como se fosse um sem-abrigo
a enganar na porca rima a desdita do destino.

à hora certa a abarrotar, a sala à cunha
poemas declamados
poemas ditos
poemas soletrados.
nas cordas tensas da viola
o indicador já quase deixa a unha
a voz feita em bocados.
a bicha para a compra da obra-prima

a dedicatória e o autógrafo do autor
de todo grátis, ainda por cima
aqui, nesta página, se faz favor.
com um beijo e um abraço,
se não se estender,
ainda tem e sobra espaço
num largo canto do papel.

pois, e a seguir?
vamos esperar,
e ver o que estará para vir.
mas, como é que se chama aquele gajo
que este ano ganhou o prémio Nobel?
só sei que era do Mindelo ou do Soajo!
quanto ao nome, traiu-me a memória infiel…


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