10 de fevereiro de 2017

Uma estrada sob a tua pele

Uma estrada sob a tua pele. Com salgueiros ladeando as margens nuas da tua ausência. Onde no passado se preparavam os campos para a sementeira, as charruas abrindo espaço para regalo do sol. O teu corpo crescendo como o milho verde das searas, deitando duas espigas frescas na fome das minhas mãos. Seguindo o percurso doce dos meus dedos. O tempo reclamando pela rega, inquietando a migração das aves e a sede dos ninhos. As raízes do teu desejo procurando no solo o cereal que amadurece na tua boca. A eira à espera, um terreiro plano e limpo. O milho-rei escondido nos segredos da blusa, pronto para a desfolhada. Assim é a estrada, assim é o teu calor subcutâneo. 


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