25 de maio de 2017

No dia de África

No dia 25 de Maio, que é o dia de África. África que tem todos os dias do ano. Porque África podia ser um bairro e não é. Podia ser um sítio, um lugar, uma aldeia. Só uma vila, só uma cidade. Podia ser um país, um continente, um satélite. Um mundo inteiro. Podia ser um sistema planetário, um universo. Até mais do que tudo isso, um faz de conta. E não é, porque África não cabe em nada disso. África é um primeiro nome, e um segundo, e uma sequência interminável deles. Um alinhavo sempre provisório que se não sabe onde começa ou quando acaba.

África é um nome de lugar, um vikanjo escondido para lá do carreiro, correndo a custo por sob as frondosas copas das árvores tropicais. É uma chuva de meia hora, que cai com a intensidade de uma paixão adolescente que se sonha. E que se vive, intensa, demolidora. Um extenso capinzal que nos encobre e que acolhe na sua solidária dimensão répteis e insectos. Com pequenos pássaros balouçando lhe nas pontas, ao ritmo de um vagaroso vento quente que chega do deserto.

África é nome de rio que corre para oriente ou para ocidente, toda a rosa-dos-ventos. Com o sol sempre a nascer por detrás da mesma mulemba. É nome de todas as Kalandulas em que se precipita ao longo do percurso. Nome de todas as curvas e contracurvas em que se espreguiça antes de morrer num estuário a saber a sal e a peixe prata, desde todas as alturas. Morro do Moco ou Kilimanjaro.  África é nome de peixe, doce como todas as lagoas do Panguila, bom como kakussos de todos os rios.


África é mukua, nome de fruta, nome de pássaro, katuiti, nome de bicho, palanca preta. Nome de pessoa, nome de terra. Xamissassa, a mística que mora no meu peito, a mulemba grande no meio do largo, os velhos com as pernas estendidas ao sol. Nome de pedra grande onde se pisa o milho, arrastando as pancadas ao som interminável da lenga-lenga, enquanto a farinha alva se fabrica para a comida de logo à noite. A panela no chão, todos sentados em volta, dois dedos da mão respeitando as hierarquias. Fuba boa essa, a que fez esse pirão. O carapau seco, assado no fogo, escaldando os dedos da outra mão.

África é o humanismo de Senghor nas matas do Senegal, negritude do século passado. Partilhado com o mundo, sem direitos de autor e sem propósito de lucro. África é Cabinda, com Simulambuco ou não. É Kwanza, N’dalatando, Kaxito, Kibala, Bailundo, Benguela, Huambo, Bié, Menongue, Ondgiva, Kunene. África é a extensa liberdade com que se escreve cada nome, sem regras e sem acordo ortográfico. Cada um deles, um frenético passo de dança, uma eminência de bassula, as costas no chão. Terra vermelha da Sambizanga, areia quente da Praia Morena. África é mais do que tudo isso. Kambariangue, kambarietu.  África é mãe,  Mãe África!

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